O final desse filme é daqueles que se deixa a pulga atrás da orelha por um bocado de tempo. Talvez porque seria mais válido um 'caminho do meio' como pelo visto é o do budismo japonês, conferindo uma coerência à nossa humanidade e individualidade.
Vi esse comentário da Monja Coen e acho que deve se pesar o que ela diz, eu também estranhei essa 'tolice' do monge X a sabedoria da Pema, que parece a 'iluminada' da história... Ou será que a intenção era mostrar que os anos de reclusão o teriam feito assim, longe da sabedoria do viver?
Monja Coen:
"O Samsara é muito específico do budismo tibetano. Inclusive eu vi o filme como uma crítica ao celibato e a castidade. No momento em que o monge sai do mosteiro e se casa, parece que perde toda a sabedoria. Questiono essa ótica do autor do roteiro. Como que de repente se esvaiu tudo que o monge aprendera desde criança? Passara por um retiro difícil, tão longo. Deve ter penetrado estados profundos de consciência, de percepção da mente. Depois do casamento fica meio tolo e a mulher dele se torna toda sábia, inclusive sobre a educação dos filhos. Pareceu-me forçado e apenas o aspecto crítico sobre o celibato e a castidade foi ressaltado. No budismo japonês ao qual estou ligada os monges podem se casar. Para as monjas isso só foi permitido depois da segunda guerra mundial. Meu mestre, em suas palestras dizia: a pureza não é a castidade. Porque senão a humanidade não existiria. Então nosso ponto de vista é diferente do budismo tibetano. Na minha experiência de vida pessoal, eu me casei e me separei algumas vezes. Agora estou vivendo com muita alegria, por opção pessoal, o celibato e a castidade. É importante citar os dois. Alguns monges se dizem celibatários e mantém relações sexuais. Alguns são castos, embora casados. Mahatma Gandhi diversas vezes tentou a castidade, mas não resistia ás necessidades sexuais. O meu caso é diferente.
Não estou tentando provar nada. É o que está acontecendo. E eu não estou sublimando, eu não estou sentindo nenhuma necessidade sexual nem de relacionamentos sexuais. Porque talvez a minha atividade no momento me complete de tal forma que eu me sinto completa. Eu não sinto que falte nada. Eu estive com monjas católicas, com freiras católicas em Salvador, durante o Conselho das Religiosas do Brasil da regional Salvador e Sergipe. E eu encontrei uma grande afinidade com elas que enfatizavam a vocação e a consagração. Eu consagro o meu corpo. Utilizo minha energia para um propósito que para mim é superior ao de temporariamente satisfazer as minhas necessidades físico-psíquicas. Eu não nego que elas existam. Eu não pretendo que elas não existem. Percebo a mim mesma.
Havia um jovem nos Estados Unidos, que já se casara inúmeras vezes, e um dia foi ao supermercado e viu a moça da caixa e se apaixonou imediatamente. Aquela era a mulher de sua vida, queria se casar com ela. Então se lembrou que já se casara muitas vezes, montara várias casas e havia recentemente acabado de se unir a uma mulher por quem se apaixonara da mesma forma que agora sentia por esta. Refletindo sobre seus sentimentos ele foi embora, sem dizer nada. É assim que eu entendo a castidade. Uma opção de cada instante. Eu não sei como seria manter o voto sem nunca ter tido nenhuma experiência sexual. Mas eu acredito que é possível, que alguns possam verdadeiramente fazer esse compromisso. Outros não conseguem. Por isso, no budismo japonês o voto é pessoal e não exigido pela comunidade. Não há obrigatoriedade.
O filme Samsara é sobre monges tibetanos que assumem o compromisso da não sexualidade. Não entendo muito bem sobre o budismo tibetano. Na minha tradição esse voto não existe. Meu mestre costuma dizer que a castidade é uma exigência antinatural e por isso pode não ser benéfico. Ao mesmo tempo podemos refletir com Buda:
“Todos vão nesta direção. Faço com que vocês pensem e ajam de outra forma.” Link
Enfim, vale ver. De toda forma, é um belíssimo filme!
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