Ontem meu avô partiu, dos seus 14 filhos vivos, foi ao lado do meu pai, seu filho mais velho que herdou o mesmo nome, que se despediu da vida no leito do hospital.
Já vinha se despedindo... ao longo dos anos... a mágoa pelo filho caçula que agiu diferente do que ele pretendia foi dura, deixou o mais bravo e amargo, não perdoá-lo endureceu seus joelhos. Por fim, a vida os fez dobrar, já mal ficava sozinho em pé.
Admirava meu avô, era uma fortaleza, parecia estar sempre refletindo, observando, e tinha um sorriso fácil no rosto por de trás da "brabeza". Com minha avó teve 15 filhos, um falecido jovem, 14 trabalhadores, sem vícios. Era duro, foi austero demais com os primeiros filhos, quis dar boa educação e conseguiu. Já minha vó foi a parceria ideal, tratou de dar o doce aos filhos e ao companheiro, em palavras, gestos e muitas compotas também! E se não tinha doce, meu vô comia açúcar do pote! Não dá para condenar, era forte, yang demais... precisava do açúcar yin. Sempre via os dois se comunicando, acho que às vezes nem entendiam o que diziam, mas eram cúmplices, se compreendiam.
De tanta brabeza, rendia medos e comentários na família. Sempre achei graça. Ninguém entendia que ele apenas fazia a hierarquia ficar em ordem, acima de qualquer coisa. Não entendia a modernice, também para quê?
Eu não pude ir ao velório, que foi feito à moda antiga, na casa. Acho isso bom. Integra. Morte faz parte da vida, como diz minha mãe, e como disse minha vó ao meu pai tempos desses: é assim Deus trais, depois 'recoie'.
Há uns dois anos, ele quis que meu pai o levasse no cemitério, foi acender velas para os antepassados. O cemitério não é longe, mas é no alto. Fui junto, fiquei contemplando, lugar bonito, de paz, ao redor de muitos pinheiros e ciprestes no alto.
É estranho saber que no Natal ele não estará lá na sua cadeira, ou no banco de fora da casa nos esperando para dar sua benção... Estará lá no alto, mais próximo dos pinheiros e das próprias raízes. Foi "recoído" por Deus.
*
Nenhum comentário:
Postar um comentário