11 dezembro, 2012

O Monge e o Mercador


Este conto aparece em alguns livros do psicoterapeuta alemão Bert Hellinger, e compartilho do que este sábio mercador diz ao monge que buscava aprender.
Às vezes, como buscadores menosprezamos o que é e o que há, seja através da "suposta verdade", do "suposto bem", da "suposta perfeição", da "suposta normalidade", do "suposto futuro melhor" e até das "supostas perdas"... deuses distantes estes nossos "supostos" e estreitos conceitos, colocando-nos suspensos no irreal e sem perceber, menos ainda Receber.

Terra. Seus cheiros. Humildade... descer ao húmus... 

Ser e Não Ser  (ausência-presença)


Um monge que andava buscando 
pediu a um mercador 
uma esmola. 
O mercador se deteve por um momento 
e, ao dar-lhe o que pedia, 
perguntou ao monge: 
“Como é possível que você me peça 
o que lhe falta para viver 
e, no entanto, precise menosprezar 
a mim e ao meu modo de vida, 
que lhe proporcionamos isso?” 
O monge lhe respondeu: 
“Em comparação com o Último 
que busco 
tudo o mais me parece pequeno”. 
Mas o mercador perguntou ainda: 
“Se existe um Último 
como pode haver algo 
que alguém possa buscar ou encontrar 
como se estivesse no fim de um caminho? 
Como poderia alguém sair ao seu encontro 
e apossar-se dele, 
como se fosse uma coisa entre outras muitas, 
mais do que muitos outros? 
E inversamente, como poderia alguém 
afastar-se desse Último, 
ser menos conduzido por ele 
ou estar menos a seu serviço 
do que as outras pessoas?” 
O monge retrucou: 
“Encontra o Último 
quem renuncia ao próximo e ao presente”. 

Mas o mercador ainda ponderou:  
“Se existe o Último 
ele está perto de cada um, 
mesmo que esteja oculto 
no que nos aparece e no que permanece, 
assim como em cada ser se oculta um não-ser 
e, em cada agora, um antes e um depois. 
Comparado ao ser, 
que experimentamos como fugaz e limitado, 
o não-ser nos parece infinito, 
como o de onde e o para onde, 
comparados ao agora. 
Porém o não-ser se revela a nós 
no ser, 
assim como o de onde e o para onde 
se revelam no agora. 
O não-ser, como a noite 
e como a morte, 
é um começo desconhecido 
e só por um breve instante, 
como um raio, 
nos abre o seu olho 
no ser. 
Assim também, o Último 
só se aproxima de nós 
no que está perto e brilha 
agora.” 
Então o monge perguntou, por sua vez: 
“Se fosse verdade o que você diz, 
o que nos restaria ainda, 
a mim e a você?” 

O mercador respondeu: 
“Ainda nos restaria, por algum tempo, 
a Terra”. 



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