17 outubro, 2023

Sessão de Terapia - Selton Mello


 (sem muito spoiler!)

 

Terminei de assistir a temporada 5 do Sessão de Terapia... que coisa bonita e emocionante.

Não vi os outros, mas já tinha assistido alguns anos atrás.

Além da fotografia, da iluminação, da precisão das tomadas de câmera, destaque para a atuação dos atores para os personagens Tony, Manu, Giovana e Lídia, além do Davi e Caio, claro.

 

E o destaque fundamental é a própria arte terapêutica...essa precisão praticamente cirúrgica da escuta que se dá de modos variados. Uma coisa que chama muito a atenção, é a mudança sutil do Caio antes e depois da sua própria terapia com o Davi, como ele sai da sua própria identificação, para se abrir realmente ver e ouvir o outro possibilitando então ser um espaço neutro e mais preciso.

 

E talvez alguns se perguntem como mesmo ele sendo terapeuta e depois de ter feito muita terapia, ainda tivesse questões tão latentes consigo... primeiro que é um lugar que carregamos, o terreno da infância é como um jardim a ser cuidado, nunca excluído... e tem momentos e gatilhos onde aparecem pragas maiores nesse jardim! Segundo, que ele achou o “jardineiro” habilidoso para apontar onde ele precisava olhar. É isso que bons terapeutas conseguem fazer.

 

Outro ponto é acompanhar a transformação em pouco tempo, 7 sessões...  E isso é muito possível, dez sessões é o tempo médio de muitas transformações. Claro, que depende muito do interagente, da sua capacidade introspectiva... se não, vamos modulando isso no decorrer. Depois, gostamos tanto que continuamos se quisermos, mas as viradas de chave acontecem sobretudo nos primeiros 2/3 meses... 

 

Bom... assista a série caso você curta, super recomendo e...  faça terapia, se puder.

Eu atendo a todo Brasil via online. E online é uma experiência tão rica quanto presencial. Às vezes sinto que até maior, pois estamos mais focados em geral e a pessoa mais confortável no seu ambiente.

 


www.sentidospsico.com/psicoterapia


 

26 janeiro, 2023

O Animal Cordial



Contém spoiler!

Assisti O Animal Cordial num fim de noite, e apesar das cenas que ia vendo, o ritmo do filme não me deixou desligar. Ao fim, me arrependi. Pensei: e agora... tenho que dormir com todas essas cenas violentas... afff... delete, delete.

Dia seguinte. A personagem da Luciana Paes me veio à memória. Puxa... quanta coisa nesse filme... sem contar a mudança de Murilo Benício durante a trama... que bom papel... Irandhir Santos... um show de autenticidade. 

Reassisti. 

O Animal Cordial é um terror com muitos diálogos, sutilezas, silêncios, percepções profundas sobre a maior parte dos personagens. Bem mais que um filme de terror, é um filme social, político e feminino.

O tema onde o horror da trama irá se desenhar é a ambição, que por sua vez nasce do cansaço. Um tema social. A fadiga física, a opressão de classes, de gênero, afetiva... mas sobretudo o cansaço de não ser quem se é, o cansaço do enquadramento. Do desejo do vestir um molde social (a personagem Sara inclusive caracteriza isso). Essa é a temática recorrente que o papel do Irandhir - uma personagem livre de todas convenções - levanta.

De início, um cliente (Ernani Moraes) no restaurante está constantemente mexendo na sua perna (mais pra frente sabemos as escolhas que o fizeram ter essa dor). A cozinheira (Irandhir Santos), não entende o pedido por um coelho, pouca carne para o sujeito grandalhão, como quem não conhece a si mesmo. 

O clima vai ficando tenso pelo horário extra dos funcionários. O papel do Ernani Moraes, com seu olhar vazio, o cansaço da solidão. Entra o casal, e a seguir a mulher (Verônica-Camila Morgado) que apesar de parecer eufórica e feliz pinça seu cansaço de ser subjugada - não participa da escolha do vinho, come com desagrado a carne fora do ponto - desconta seu cansaço em outra mulher, a garçonete. Num momento diz à ela como ela mesma deve se sentir: sua "nada", no desenrolar de uma catarse.  A garçonete (Sara - Luciana Paes) por sua vez, ambiciona ter o que mulheres como Verônica parecem ter para ter ao lado um companheiro ao menos. Passada a catarse, Verônica parece cair em si no banheiro, aconselhando Sara. O clima também fica tenso entre Inácio e o cliente que fica num jogo de quem sabe mais sobre vinhos.

Durante a trama toda tem o horror-amor, da personagem Sara (Luciana Paes). Logo ali nas primeiras cenas a câmera vai abrindo ao espectador a intimidade, a cumplicidade buscada. Se deixa ser passiva e entra no jogo do abuso, pois não há reciprocidade afetiva. Sara segue em gestos Inácio (Murilo Benício). Ele permanece narcísico, como a cena libidinosa dos dedos no espelho retrata.

Irandhir (Djair) é uma figura de contraponto. É quem sabe o que é de fato, sem querer ser ninguém além dele mesmo, com suas raízes e memórias. Sua ambição é o banho de chuveiro na sua casa, o conforto, o prazer. É quem de fato se salva. Em cena quase paralela, ao contrário de Verônica (Camila), por exemplo, que desgostosamente se sujeita a comer a carne, Djair mandado de volta à cozinha por Inácio, não se sujeita a ir. Irandhir é o animal quase nada cordial. Sua cordialidade é sincera, visceral - invejada por Inácio.

O espelho também é muito bem colocado. Da fala inicial de Inácio, a depois a se ver desfigurado, na própria ira que o faz arremesar contra o espelho. Espelho que também vai servir à Sara, acompanhando sua mudança.

Tem muitas cenas impactantes, principalmente de Sara. O sorriso esboçado quando Inácio atira em Verônica, a objetificação ali já feita, sem rastro de humanidade. A cena onde Sara limpa o salão, sorrindo no seu encantamento romântico totalmente desconectada do assaltante que agoniza ao fundo, enquanto Inácio está concentrado em fazer Djair assumir o assalto e a manter o status do seu restaurante calculando o piso a ser trocado.

A esposa de Inácio que apenas aparece pela voz no celular, mostra também a fadiga do relacionamento e do seu descrédito. Da carga tensional acumulada.

A cena de sexo é uma consequência transformadora... selvagem, visceral. Quando depois, Sara, está nua e em deleite... Inácio a cobre, depois é mandada para a cozinha. Ali, aparece uma Sara comendo de forma rude, selvagem, nada cordial...  a chave vira para Sara depois disso, vira especialmente na experiência do corpo, instintiva... E some a isso Irandhir lhe dizendo "agora que você voltou a ser quem era, que sempre foi... o que tu quer, mulher?"

No fim, Sara pergunta porque ele não a matou, a resposta é um seco e utilitário "porque eu preciso de você" - vai se despindo dos brincos de Verônica enquanto conta do seu sonho no mar... ao que ele responde: "eu não sei nadar", e ela: "é dentro de mim". Se despe da blusa que ele a tinha coberto ao som de The Dark is Rising (Mercury Rev).


obs.: vi comentários de que foi mal feita a cena que como alguém (Djair) amarrado consegue se soltar. Não foi mal feita. Só quem não percebeu, que ele estava solto ou quase solto pela Sara. Basta voltar na cena para ver.

______

Abaixo, análise do Fora de Quadro:

A cinematografia brasileira independente é rica em tentar dar conta, às vezes com sucesso, outras nem tanto, do sujeito socialmente tido como não-cordial. Leia-se, o foco está quase sempre em quem precisa de alguma forma se rebelar ou driblar o sistema em nome de uma causa maior e, com frequência, de um discurso que convoque o coletivo, a justiça, algum tipo de reparação de danos. A câmera está sempre atenta a esses sujeitos, precisamos nos vingar na tela de cinema, ou mesmo nos frustrar diante dela, com a condição de sermos nós, uma entidade disforme do pensamento de esquerda, a estarmos em cena. Portanto, quando Gabriela Amaral Almeida decide centrar sua atenção naquilo que até então entendíamos como o contraplano desse cinema, quando finalmente essa câmera se vira para o “inimigo” e, enquadrando diversos tipos de close nele com a precisão de quem sabe amolar uma faca, o efeito que esse sujeito nos provoca é antes de surpresa, uma inquieta curiosidade talvez, que exatamente de repulsa.

Não somos tão familiares assim a ele enquanto cuidado maior da imagem, o sujeito da camisa por dentro da calça, de todos os botões fechados, do cabelo sem fio fora do lugar, do controle emocional medido em dentes trincados, da falsa cordialidade treinada na frente do espelho. Seria ele o nosso temeroso cidadão de bem? Ou levantar essa hipótese é em si escorregar no risco de interpretar a partir do lado da câmera com o qual sempre nos acostumamos a estar? Tudo fica mais confuso, e excitante, porque também não somos assim tão familiares ao corpo que opta por negociar com esse sujeito, neste caso, o da mulher que entende os jogos de poder postos sobre a mesa e oscilando entre o desejo e o instinto de sobrevivência, mantém sempre ambígua sua relação de fidelidade com essa instituição “culturalmente humana” do macho obcecado pela situação de total controle. De todas as formas, somos de fato pouco familiares ao cinema que essa diretora se propõe a fazer: um que se utiliza de todos os códigos e signos do gênero terror, neste caso mais especificamente dos slashers films, para dar conta dessa alteridade na imagem de quem, na superfície das coisas, se põe como uma figura padrão.

A diretora, afetivamente dedicada ao cinema ao gênero em questão, entende que precisamos conhecer mais a fundo essas pessoas estranhas. Dissecá-las. Lentamente. Quadro a quadro. Planos médios, fechados, zenitais. A intermediação social no filme de terror não está em matar monstros, mas abri-los aos nossos olhos sob todos os ângulos. E para isso, o que se fará aqui é um minucioso trabalho de desenvolvimento de personagens a partir não da instância do discurso verbal que eles criam, mas do discurso de corpo estabelecido pelo que a câmera decide cuidadosamente enquadrar. Trata-se de uma aula de anatomia que já se dá nos créditos iniciais do filme e se estabelece rapidamente no corte de sete rápidos planos que fazem esse percurso desde o lado de fora do restaurante onde tudo vai se passar até o quadro fechado no involuntário toque de braços entre esse homem e essa mulher, ele com uma camisa jeans, ela com uma farda branca. Tensionamento em tons de cores neutras, tão neutras quanto pode ser a identidade de um restaurante forjado na ideia de que qualquer prato, por mais específico e saboroso que seja, deve ter seu sabor aplainado por uma decoração fria e uma trilha sonora insípida.

Do outro lado da janela vazada da cozinha, três funcionários vestidos de branco, em um ambiente asséptico, cortam e temperam carnes. As relações de classe que se estabelecem entre esse vidro que separa a cozinha do salão são de largada postas igualmente a partir de planos fechados tanto no rosto da cozinheira (Irandhir Santos), quanto no manuseio da faca e do amolador. Estamos quase prontos para que o filme de fato comece e que possamos ser apresentados ao primeiro ponto de virada de uma clássica curva dramática. Mas antes, a demarcação de território: a cozinheira olha para o cliente do outro lado que acaba de pedir um prato de coelho e diz, entre o desejo e a constatação racional: “é muito homem pra pouca carne”. Corta-se a cabeça do coelho e o título do filme aparece: O animal cordial. A pergunta inevitavelmente se põe: quem ali será esse animal?

Os tipos que então vão preencher o restaurante a partir desse momento concentram um microcosmo da sociedade urbana brasileira: o dono sudestino e ambicioso do estabelecimento, a garçonete fiel e com tesão, a cozinheira bicha, nordestina e de cabelão, o cliente homem bruto porém amável e um casal formado por um sujeito almofadinha que aprendeu a falar “vinho amadeirado” e uma mulher com brincos pesados demais para conseguir levantar o rosto e olhar para quem a atende. Entre todos eles, uma tensão controlável apenas pelos pressupostos das relações entre o servir e ser servido. Até que entram em cena os dois ladrões que irão quebrar a fina camada de gelo já posta no ambiente. É como se aquele Brasil dito nos silenciosos conflitos entre os presentes finalmente pudesse se manifestar sem falsos moralismos e etiquetas de boa convivência. Sem mediações, vamos ao cru da carne.

Interessa menos descrever a progressão dos fatos que vão se desenrolando do que apontar para os efeitos que o filme provoca na pele, no estômago e, por que não, no paladar de quem o assiste. Fome, tesão, medo, asfixia, as coisas passam por esse ambiente cada vez mais fechado do restaurante, as paredes se tornando mais próximas umas das outras, o chão menos madeira, mais sangue. Inácio, o dono do estabelecimento, tem uma arma. E diante dela, Sara, a garçonete, tem simulada obediência. A cozinheira tem orgulho. O casal tem pavor (ainda que ela consiga mijar no banheiro, enquanto a ele reste apenas mijar nas calças). O homem bruto que, descobrimos depois, é ex-policial, tem cansaço e um certo cinismo. Quanto aos ladrões, o primeiro deles abatido por Inácio, agoniza no chão. O outro teme pela morte do parceiro. Uma parte desse grupo assiste a tudo pelo extracampo da imagem. Amarrados na cozinha, eles só podem deduzir o que se passa a partir dos sons que chegam do salão.

Mas o gênero pede não apenas que os personagens comecem, aos poucos, a morrer, como exige, sempre que possível, os grafismos dessas mortes dentro do campo. Na manifestação sanguinária de cada um deles, duas imagens se preservam: os tiques corporais sintomáticos de como esse sujeito armado lida com o “outro” e os pactos sinuosos de domínio e sobrevivência que sua parceira nessa saga estabelece em cena. Mérito não apenas na direção de Gabriela, da fotografia precisa no jogo de luz e sombra de Bárbara Alvarez, do excelente desenho de som de Fernando Henna e Daniel Turini, e por tabela da trilha original de Rafael Cavalcanti, mas sobretudo do elenco, particularmente Murilo Benício e Luciana Paes, respectivos protagonistas dessa chacina de costumes.

Benício mostra os dentes para o espelho em um sorriso treinado e reconheço nesse reflexo alguém para quem não consigo olhar frontalmente. Seus olhos vão aumentando de tamanho, sua testa se franzino em camadas de pele que represam mais do que ele possa conter. Mas se nele o personagem se constrói fundamentalmente a partir do rosto, em Paes, por sua vez, há um incrível trabalho de corpo inteiro da atriz para, a partir de gestos e contorções, indicar a gradual manifestação do selvagem indomado. Em vários momentos, ela parece mimetizar a intensidade sublime e assustadora das gárgulas que ornam antigas construções arquitetônicas, sua personagem canalizando esse tempo outro, a sobrevivência de um páthos da dor em êxtase, ou, quem sabe, da êxtase em dor. Alguém que, enfim, não conseguimos conter em réguas morais dada uma constante dubiedade de suas expressões.

A sequência da cena de sexo entre esses dois personagens, uma que subverte absolutamente todos as premissas do gênero no tratamento sexista que costuma ser dado às mulheres, é uma manifestação bem pontual do tipo de energia que se desgoverna desse filme tão bem controlado em sua mise en scène. Para além de servir como o ponto de virada final da narrativa, ela invoca para si todo o simbolismo caricatural de Bosch, os estudos demoníacos de Bruegel e, mais importante, revisita o nosso manifesto antropofágico, agora não mais como uma resposta artística aos processos colonizadores europeus que canibalizaram a América, mas como uma declaração de quais são os corpos que, nas estruturas de poder que se dão entre mulheres e homens, entre empregados e chefes, podem e devem comer outros, antes mesmo que o Juízo Final surja no horizonte.

A trama, portanto, vai muito além de uma jornada do justiceiro de whatsapp, imbuído do espírito bandido-bom-é-bandido-morto. É claro que o Brasil contemporâneo está posto em quadro: seja nos momentos em que os personagens estão decidindo por comprar um chão de porcelanato enquanto um dos ladrões morre lentamente pedindo ajuda, quando as relações de classe se tornam explicitamente doentias, ou quando a cozinheira grava seu depoimento afirmando que Inácio tem problema mesmo é com o cu dos outros. Mas o tom do filme como um todo fala de coisas bem mais complexas.

Apontaria para duas delas: a primeira é uma observância de como a construção de uma ideia de verdade está sempre sujeita às habilidades de quem a performa. A verdade, em meio ao caos, pouco importa. Mas saber encenar pode salvar vidas. O terror, com tanta frequência, mora na dissimulação. A segunda diz respeito à relação entre o externo e o interno (e o espaço fora do restaurante aparece somente em dois breves momentos), ou seja, do que a instituição amoral do privado é capaz de fazer quando o mundo público lá fora irrompe porta adentro com toda sorte de problemas sociais. No caso dessa construção espacial, nota-se que há um paralelo bem estabelecido entre esse restaurante e o interior de um navio, com divisórias ornadas pelas típicas janelas circulares dessas embarcações.

O navio que para Foucault é uma heterotopia por excelência, leia-se, um lugar que está fora de todos os lugares, e ainda que seja localizável e real, mantém com o mundo externo uma suspensão de identidades, ganha nesse filme um enredo que flerta com uma constante sensação de valores à deriva. A ironia que, bom salientar, está presente em toda obra de Gabriela Amaral Almeida, surge então em um diálogo próximo ao fim do filme: Sara planeja um desenrolar romântico em sua cabeça. Ela se imagina no mar, o vento levando seu chapéu. Inácio vem correndo em sua direção. Eles se beijam e depois, na cabeça dela, ele volta para o mar. Mas eis então que tirando Sara desse torpor pós-orgasmo e carnificina, ele responde a ela: “Eu não sei nadar”. O mar lá fora, Sara sabe, é tantas vezes intempestivo. E não adianta ter armas aqui dentro se, nos espaços coletivos do mundo, não se sabe ao menos nadar.


Fonte: https://foradequadro.com/2018/08/09/o-animal-cordial-de-gabriela-amaral-almeida/

Veja também:



29 dezembro, 2022

Frestinhas 2023!



Você pode dizer que é lei da atração, mas é apenas receptividade ao que você já vibra.

É a frestinha minúscula que se torna o clarão no ambiente. Às vezes a frestinha é uma música, um aroma, uma oração, um olhar, uma meditação, um momento de apreciação, uma imagem, uma pergunta aberta... É o instante da pausa, de se posicionar no estado natural, no modo aberto/receptivo. Uma "vibe" diferente mudando a chavinha... e daí pronto, é automático, vai aparecer mais daquilo -  que podem ser encontros, livros, materializações diversas. Porque você então, viu

É curioso que a gente não perceba muito... que antes de algo aparecer, acontecer... a gente antes já tinha acessado a frestinha! Foi apenas a luz (éter - lucidez) que nos fez ver.

Lembre... quantas vezes já não aconteceu com você algo assim, como vou compartilhar. Eu me lembro de dezenas de acontecimentos incrivelmente mágicos à coisas muito banais, e é também sempre incrível quando interagentes me contam coisas assim, durante os processos! 

A imagem: Certa vez estava pesquisando sobre mulheres em obras primas de uma época, e passei a semana vendo e apreciando as imagens. Fui à uma consulta e ao meu lado sentou uma mulher inacreditavelmente idêntica. Ela praticamente tinha saído da figura para estar ali em carne, osso e movimento!

Então se algo assim simples acontece... é porque aquilo tinha entrado na minha atenção visível no campo aberto das possibilidades. Eu nem a teria notado se eu não tivesse já com aquela possibilidade de observação/decodificação.

A vontade: Tinha um livro de aromaterapia que eu queria muito ler, mas já não estava mais sendo editado e nenhum dos amigos da área tinha. Isso foi coisa de dias, entre a vontade e o livro na minha mão. Fui levar uma encomenda e estava na recepção com óleos essenciais, quando uma mulher puxou conversa comigo, falando que havia feito um curso justamente com aquela autora que era do livro que eu queria (eu nem tinha citado ela) daí falei que queria muito ler o livro dela, e ela disse que a pessoa que eu iria ver devia ter o livro... Comentei isso com a pessoa da encomenda, e ela falou... sim, eu tenho o livro dela! E claro, me emprestou!

A oração: O meu primeiro emprego aos 18 anos foi uma sucessão de sincronicidades e quase que de milagres que daria um filme! Ele também foi o desenho da minha vontade, desde o exato lugar e até mesmo o endereço. E teve um fato surreal. No primeiro dia de treinamento eu atendi um telefonema -  o que já foi incomum alguém ter sugerido isso -  e era uma criança perguntando se era da igreja X, eu ainda fiz que não entendi só pra ter certeza do que eu estava ouvindo... Acontece que uma amiga de uma vizinha, havia me pedido meses antes minha carteira de trabalho para levar justamente nesta mesma igreja!

Estar aberto, também pode significar basicamente acelerar ou atrasar a experiência. Por exemplo... lembro uma vez que eu estava fazendo hora extra no trabalho, apenas esperando chegar o fechamento do valor de um contrato. Era uma soma X... e eu fiquei olhando no sistema, acho que por uns 30 minutos a mais... esperando ver aquele valor... e nada... Na verdade o valor já estava lá, ele tinha sido dividido - o que até era comum, mas eu estava chateada por estar ali até tarde e não vi, só estava na espera de ver o valor X!

E não é sobre ação, porque você pode fazer estando estreito, condicionado. Ou você pode estar quieto e a experiência chegar até você. Outra coisa que tenho aprendido que não é sobre conscientemente resistir ou desistir... é independente disto, é apenas da vibração que prevalece.

As coisas nos encontram... ou somos encontrados? 

Teve uma vez que vi claramente um acontecimento simultâneo. Duas clientes - uma do sul e outra do nordeste - me falaram de uma fornecedora que queriam encontrar na cidade onde moro. Procurei de todas as formas, até liguei na prefeitura e nada de achar, e desisti. Ao mesmo tempo, uma vizinha estava me falando que ia levar um produto pra eu conhecer. Como muitas pessoas faziam isso, eu não achei nada demais. Isso deve ter durado umas duas semanas, até que ela veio e eu me surpreendo com o nome que vi escrito na sacolinha, era o tal nome que estava procurando! E não só, quando conheci a pessoa que fazia, eu falei... nossa tenho uma revista aqui com um produto igualzinho ao seu (que tinha por anos e super apreciava), e ela disse que era o produto dela mesmo. E acabou que ela se tornou uma fornecedora minha por muitos anos.

Mas, embora tenha coisas que gostaríamos, nem sempre conseguimos manifestá-las, porque há um conjunto de valores, crenças, imagens, sons, cheiros, afetos, permissões ou não em nossos sentidos. Há bloqueios, aberturas e com isso tempo pras coisas se processarem! Mas é certo que, quanto mais conseguimos olhar para os bloqueios, crenças negativas, mais disponíveis à ver estaremos, e mais fácil então daquilo estar em nossa vibração/mente - e então de nos encontrar com aquilo que também está nos buscando no campo de possibilidades. Simplesmente porque vimos

É a mente. E a mente pode estar num túnel - estreita, limitada - ou estar no alto de uma montanha - expandida, livre, até ilimitada! E tudo bem que nessa viagem haverá horas de passar por túneis e horas de apreciar as montanhas... 

E com coisas muito ruins que nos acontecem, então somos responsáveis? Primeiro que experiências consideradas ruins, podem ser apenas julgamentos de que sejam ruins. Segundo, existem informações prévias da ancestralidade, da cultura, do meio que vivemos (etc),  ao qual fazemos parte - à priori agiremos sempre conforme as vibrações existentes. E de que forma iremos responder ao que nos acontece, também leva tempo... Se culpar, apenas vai ajudar a reforçar o ego, a não considerar o todo!

Bom, isso tudo é pra gente refletir um bocadito nas possibilidades de romper com certas escolhas possíveis de identificações, com aquilo que você recebeu e como as interpreta hoje...  E pra lembrar que sim! Há outras escolhas diversas e possíveis no campo das infinitas possibilidades, ainda que leve tempo pra gente se desidentificar... e assim ir no embalo das frestinhas e poder ver com sabedoria, tendo também amor e paciência pelos nossos processos.

E  já vai ser bem bacana... se apenas a gente ousar perguntar mais do que ter respostas!

Um 2023 pra você cheio de frestinhas, que possibilitem as melhores escolhas pra você experienciar e que igualmente tragam benefícios à maioria!


Com carinho, 

Milene C.S.


.

 

04 novembro, 2022

Absurdos

Por mais que a gente saiba, ainda é sempre um espanto.

Ontem assistindo ao Profissão Repórter sobre as eleições. E a resposta de 99% dos eleitores é que vota/votou em Bolsonaro pela defesa da família. Outros, além da família, pela pátria... Outros ainda acreditam firmemente na fakenews do momento: banheiro unissex!

O slogan "Deus, Pátria, Família" se vendeu sozinho, sem nem se quer um representante que o sustente.

E nem vou citar aqui cada absurdo disso tudo, pq nem vale à pena, pra quem não quer mesmo ver.

Boatos e mentiras voam e prejudicam todo um coletivo.

Lamentável.


.




30 setembro, 2022

Tiago Iorc - Masculinidade



Uma pena que possivelmente pela letra este clip tão seja pouco conhecido...



 

11 setembro, 2022

Sinais

Talvez seja algo que aconteça mais para umas pessoas do que para outras, não sei... mas eu costumo receber sinais, mensagens, sonhos... pouco decifráveis... mas que mesmo assim é uma forma boa de confirmar que tudo está certo.

Primas

Eu não tenho uma teoria específica como o espiritismo, por exemplo, sobre uma crença do que acontece no pós morte. Mas... imagino que em algum momento, tudo se dissolve, primeiro numa reintegração aos elementos, e em algum momento à Unidade. 

Minhas primas - mãe e filha morreram num acidente de carro. Nessa época eu devia ter uns 20 anos. Minha prima estava trabalhando perto de casa, e estava indo com mais frequência nos ver. Ela gostava muito da minha mãe, e elas tinham uma relação com muito vínculo. A Regina era uma pessoa daquelas que a gente considera boa, tranquila, super prestativa, cheia de dotes pra fazer de um tudo. Eu tinha mais contato com as filhas dela, e a Kelly era pequena, nessa época ela devia ter uns 11 mais ou menos. A última vez que a vi, lembro que fiquei impactada do quanto ela havia crescido (espichado!), e nem fazia tanto tempo assim que não a via. Ela estava bem quietinha, e no meu quarto que tinha uma escrivaninha, me pediu papel e caneta para escrever algo que, segundo ela, uma amiga tinha escrito para ela e ela queria também escrever para mim...

No dia do acidente, a Regina foi em casa, foi convidar minha mãe pra ir com ela, mas minha mãe estava indisposta. Lembro nitidamente de abrir a porta para a Regina, porque me deu muita vontade de abraçá-la... A gente já nem se cumprimentava fisicamente, porque ela estava trabalhando há poucos meses perto de casa e acabava indo lá com frequência, e eu só dava um oi.

A Regina e a Kelly eram mãe e filha muito ligadas... de uma certa forma seria impensável em imaginá-las separadas!

Bem, a tal cartinha guardei em cima do armário numa caixa. E estranhamente me esqueci dela. Fui reencontrá-la no fim daquele ano, num dia que era aniversário dela ou da irmã dela (eram datas próximas) - não me lembro exatamente.

A cartinha:




25 agosto, 2022

Quem aprendeu a dialogar?


Milene S.

Muitos de nós, e principalmente das gerações anteriores viveram em regimes autoritários. Basta conversar com um pai, um avô, uma avó, tia, etc, para saber que bastava um olhar de um mais velho para entender. Que muitas coisas eram feitas escondidas e que não se conversavam sobre assuntos importantes, tidos como "tabus".

Essa autoridade toda tem inúmeras sequelas. Não aprendemos a dialogar, escutar e falar.
Onde a autoridade reina, não há espaço para expressão, conversa, diálogo.
E pior, se toma aquele que pensa diferente como inimigo!
E claro, que vemos o ápice disso nas escolhas importantes de uma nação! E alías, pra quem é de décadas passadas vai lembrar que assuntos como política, religião e briga de casais não podiam ser falados, o que dirá discutidos!

O modelo da autoridade é inconscientemente buscado, como modelo de permanência colonialista, "hetero-patriarcal". Como um modelo que supostamente "protegeria".

Hoje vemos centenas de pessoas ditando regras na internet, faça isso, não faça aquilo... faça assim e assado. E milhares de seguidores... Isso também reflete a almejada autoridade, alguém para dizer o que fazer + alguém para obedecer. Nada contra quem tem o conhecimento e o bem comunica/compartilha, mas há uma idolatria em pessoas bem longe de serem endeusadas! Aliás qualquer endeusamento já é um alerta para quem está precisando acordar desse pesadelo colonial.

Não só buscamos autoridade, como também desejamos ocupar esse lugar de "destaque". Há muitos exemplos, mas vou citar a mais clássica: a falta de tempo, a ocupação exagerada - que se tornou status. Afinal, pessoas tidas como autoridades sociais não desperdiçam tempo. Logo, o seu tempo e portanto elas próprias seriam especiais!

A autoridade se reflete em tudo, sentimento de inferioridade é o caso típico de quem agora precisa se mostrar superior e ordenar a quem está abaixo por ter aprendido assim.

Aparece também no isolamento, pois aquele que não pode se expressar acaba se retirando. Muito diferente de quando há trocas, onde sentimentos de afeto podem então serem cultivados.

E nas relações entre casais, filhos, etc, a autoridade também se mostra quando nos trancamos em posições fechadas, limitadas, autocentradas, com pouco ou nenhum espaço de diálogo.
E sofremos pensando o que o outro pensa ou pensará sobre nós, afinal imaginamos que o outro assim como nosso também modelo colonialista interno, também "conclui".
Aquilo que ouvimos das figuras de autoridade era uma sentença, sem abertura, sem tempo ou jeito para nos ver... isso pode dar tanto medo quanto ser buscado e sem dúvida, é replicado sem consciência, de inúmeras outras formas.

Não há espaço específico para exercer o diálogo - a comunicação com troca. A nossa família, parceiro, amizades, trabalho, etc, são esses espaços. Mas, infelizmente há muita resistência, mal-entendidos e até brigas. Então, é um trabalho educacional, de buscar referências, de tomar muita consciência sobre os padrões, de liberação do nosso medo ainda infantil das sentenças que nos fecharam, de voltar à curiosidade pelo outro, de conceder tempo, escuta atenta, olhar e compreensão.


.



12 agosto, 2022

Somos a nossa comunidade - Nilton Bonder


Palestra excelente do rabino Nilton Bonder - Somos a nossa comunidade no Café Filosófico - CPFL.

Nilton começa discorrendo sobre a grande descendência de Abraão (consciência), não apenas consanguínea como geralmente é interpretada.

Discorre amplamente sobre a bondade para além do eu, de como fazemos da bondade autocentramento, base de trocas, mercantil.

Entre outros tópicos... 

Vale muito ver!




18 julho, 2022

Amor ao primeiro filho

Acho que os melhores filmes que assisti até hoje, vi todos na TV Cultura, nas mostras de cinema internacional. Durante um tempo ficou sem ter filmes... e agora aos domingos às 22:30h, tem cine Cult.  Ontem, foi dia do francês Amor ao Primeiro Filho (e olha que legal, dá para assistir esse no YT: https://www.youtube.com/watch?v=gB-NG8ShB-E)

Filme leve, divertido, com ótimo roteiro e perigas de descer umas lágrimas mais ao final. Fica a dica!



.

19 abril, 2022

Ego

          "Compreender a natureza do ego e seu modo de funcionamento é

de uma importância vital se desejarmos nos libertar do sofrimento."


~Matthieu Ricard



por Milene C. Siqueira


Ego é uma palavra de origem latina que significa "eu". É um termo principalmente Psicanalítico, "freudiano", para o centro consciente. É tanto o que media, o que decide entre id (instintos, prazer imediato) e superego (valores morais, limites, censura), quanto o que integra essas duas instâncias. Um ego dito forte, pela psicanálise, seria um melhor equilíbrio entre id e superego - ou seja, uma boa administração do ego entre desejos e realidade.


O ego vai sendo formado pela interação dos cuidadores (em geral, a mãe) e do ambiente, constituindo aos poucos - junto a tudo que vai sendo rechaçado (sombra/conceito junguiano) - uma persona. O ego é basicamente o ego do outro refletido em nós. E que continua pela vida sendo reforçado nas relações, e só é minimizado (ou expandido na consciência) quando pode ser observado, movendo-se no eixo do ponto fixo.


Nas filosofias e religiões vamos ouvir as mais diversas opiniões sobre a palavra ego, ou referências similares como eu, eu pessoal, eu inferior, eu menor, eu falso. E também vilão, inimigo, demônio, etc. E vai desde a recomendação para eliminação, dissolução, anulação até a integração, transcendência.


Mas como anular, eliminar ou transcender o que nem reconhecemos?

Aliás, quem teria interesse em eliminar o ego que não o próprio ego?

Matar, eliminar e mesmo lutar contra o ego não são condições possíveis. E até se diz que não dá para matar aquilo que nunca de fato nasceu.


Integrar e transcender são palavras mais adequadas ao tratamento do ego. Porém, não há integração e transcendência sem reconhecer, sem investigar a existência de um eu que não é "encontrável", permanente, mas sim transitório e interdependente.


O ego é uma estrutura importante, sem ele não teríamos como e nem para o que observar. E não o teríamos como facilitador da expansão da consciência. Porque é também através do ego, como centro da consciência, aquele que é capaz de elaborar os conteúdos do inconsciente - no ambiente analítico - através de recursos como a fala, escrita, arte e meditação (analítica principalmente). Sem o instrumento que é o ego, também não estaríamos aqui lendo e discernindo.


O nosso problema com o ego é a exagerada identificação ao eu, que ativa mecanismos de defesa (projeção, racionalização, fantasia, etc). É quando estamos servindo ao ego, ao invés dele nos servir.


E paradoxalmente, embora o ego tema "morrer", ele está também na busca da sua ausência.

Poder ser espaço - ou buscar apoio para - é observar a composição das crenças estruturais e poder sair do jogo de ganha e perde, das comparações, do julgamento, do egoísmo/autocentramento, da cobiça, inveja, do sofrimento, da separação, e da constante luta interna entre o querer (desejo) x o poder (realizar).



"Como dois pássaros dourados pousados no mesmo galho,

infinitamente amigos, o ego e o Eu habitam o mesmo corpo.

O primeiro ingere os frutos doces e azedos da árvore da vida;

o segundo tudo vê em seu distanciamento."


~Mundaka Upanishad






Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...