por Milene Siqueira
O não saber dizer NÃO é uma das facetas da baixa autoestima*, que citei no post AutoEstima - O afeto que mora do lado de dentro. Agora trato mais especificamente desta dificuldade.
*Lembrando que autoestima é a possibilidade ética de gostar de si próprio. A procura pela estética é substituída como artifício para quem não se aceita, não se gosta, não se respeita. A estética é importante, mas não resolve como substituição, não se "compra" autoestima.
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Não são poucas as pessoas que não sabem dizer NÃO.
E quando o querem, tremem, suam frio só de pensar. Tentam, balbuciam e na hora acabam dizendo um SIM quando o que queriam mesmo era dizer com tranquilidade um NÃO.
Outros, quando conseguem, ficam péssimos por terem negado algo, e aí o pesar da culpa logo aparece (culpa que é só outro disfarce para continuar se sentindo especial!).
Ou ainda fogem de situações por temerem ter que dizer um NÃO e preferem pagar pelas consequências da ausência, do que fazer uma colocação que esteja alinhada com seu querer.
Não saber dizer NÃO de um modo simples, honesto e natural trunca a vida! Não há transparência, verdade circulando. Logo, tudo fica embaçado, bagunçado - caos.
Tememos dizer NÃO quando a aprovação ainda está fora de nós - apoiada no reconhecimento de si pelo outro. Há dependência, falta/carência. Vulnerabilidade.
Existe no fundo uma arrogância desconhecida, que pode estar disfarçada de timidez. É o jogo sutil da "superioridade x inferioridade".
O tempo projetado também é um fator da vulnerabilidade - pois um NÃO hoje nos parece um ataque no amanhã, e a vulnerabilidade da "NECESSIDADE" aparece como um fantasma.
Outro fantasma que ronda o medo de dizer o NÃO é a VANTAGEM. Nos sacrificamos por uma vantagem que nossa mente imagina. Pode ser a "garantia" de uma ajuda, dinheiro, prestígio, seguridade, afeto. Esqueça a vantagem mental se a mesma não estiver no seu coração, porque nenhum SIM "mal dito" lhe dará qualquer vantagem real.
Quanto medo de ferir, de perder. Mas o medo maior é de ser ferido também... é que quem não aceita os NÃOs que a vida disse (fruto das expectativas) somos nós próprios - a ferida está aberta.
Para justificar nosso mau estar em dizer NÃO, nos corrompemos com uma explicação em geral bem "bonitinha": que é por amor; que é por bondade; que é para não magoar o outro; que é para garantir vaga no céu; que é por você ser tão sensível ao problema alheio; que é pelo outro ser tão indefeso e precisar taaaanto de você; que é para não atrair coisas ruins; que é por educação; que é pelo outro ser idoso; por ser criança e precisa ser poupado devido à sua ausência ou dos problemas, e por aí afora... No fundo só prepotência!
O fato é que cada vez que queremos ou precisamos dizer um NÃO mas o trocamos por um SIM, nos sentimos também superiores, afinal vestimos o Importante e o Amado. Só que além de temporário, o preço é a nossa Vida (e a do outro) a estar dividida e iludida, ou inteira/íntegra, real.
É sim... a vida do outro também... é como o mandamento bíblico só que invertido: "desame ao próximo como desama a si mesmo".
Podemos estar atrasando a vida alheia tomando o tempo do outro, quando não somos honestos com nossa verdade, por exemplo.
Pais que não sabem dizer NÃO estão criando adolescentes e adultos que acham que tudo podem, testando na sociedade os limites educacionais que não receberam em casa (e essa é apenas uma das consequências) - infelizmente estes pais carecem de autoestima também.
E SIMs que exigem sacrifícios pessoais dos quais você cria um duelo silencioso contra si mesmo - entre seu corpo e sua alma.
Há ainda uma outra justificativa que pode aparecer antes ou depois para te acalentar já que você não conseguiu agir conforme seu sentimento: o egoísmo. O egoísmo soa como um palavrão aos nossos ouvidos, ele é feio moralmente né? Só que poucos entendem o que significa essa palavra de fato. Deixar de nos respeitarmos em prol do outro é exatamente ao contrário. Se você diz SIM com medo de deixar de ser importante isto é do EGO, isto é portanto egoísmo.
Outras vezes nem sabemos o que queremos porque estamos há tanto tempo desconectados de nós - do nosso corpo principalmente -, camuflados pelo outro, pelas crenças, pelos condicionamentos, pela propaganda, que vamos fazendo o que não queremos mas sem uma noção clara deste não querer. Mas nos sentimos desconfortáveis, deslocados, doloridos. É o senso maior do dever, quando vai muito além do que se deve de fato para o momento atual e que vai embotando nossos sensos. Nesse estado, a noção de limites é bem confusa. Há possivelmente muitos exageros compensando faltas. Perde-se tempo porque não há foco, já que há muitos SIMs para agradar a muitos. Falta clareza do que é seu ou é do outro, quem é você, quem é o outro. Costuma atrair para sua vida figuras que reafirmam a identificação mais forte que assegurem a subsistência da sua "imagem", ainda que sofrida. Mas para o corpo não tem enganação, ele avisa e reclama clamando por você. Dói, faz pressão, angustia.
A cada vez que não lidamos com a verdade do nosso temperamento, do nosso EU, impondo o que sentimos de uma maneira natural - o sistema imunológico diminui, e ao contrário do que almejávamos como ter segurança, é mais vulneráveis que ficamos. A nossa defesa/a imunidade que deveria estar do nosso lado, imagine...!
Quem só diz SIM, igualmente espera sempre um SIM das pessoas, um SIM das situações, um SIM do mundo. Afinal existe uma cobrança na mesma moeda. Lembra daquela indignação e raiva?: "Mas eu fiz tanto e olha o que recebo!", "eu não cobrei e agora fulano me cobrou quando eu mais precisava". Pois é, sinto dizer que você andou enganando-se e agora está também recebendo na mesma moeda.
Mas para piorar, na maioria das vezes, essa cobrança é inconsciente. E como o SIM não atende às suas expectativas, a frustração o acompanha, assim como uma insistência na vida por este SIM. Você pode trocar de situações, de pessoas e de ideologias, mas não percebe o objetivo. Como continua procurando para fora de si, o sofrimento permanece.
Quem não sabe dizer NÃO também não sabe dizer SIM, ou melhor dizendo, não o reconhece.
Vivemos num mundo onde a negação e a desistência são vistas como derrota, fracasso. Não são. Nós desistimos porque o sentimento pode falar mais alto onde antes não estava sendo ouvido. Podemos desistir porque assumimos o respeito pelos nossos limites.
E citando como observação que há aqueles que nasceram para responder muitos SIMs, que tem o temperamento da ajuda, da caridade real, que o fazem conectados com seu Ser. Que respondem SIM por nenhuma vantagem (financeira, moral, social, futura, etc), por nenhuma necessidade, sem qualquer duelo interior. Estes em geral educam com amorosidade e com limites. São disponíveis sem invadirem, respeitam ao outro e são fiéis a si mesmos. São pessoas muito especiais, raridades.
E por fim, vivemos num país de corrupção. Vemos as enganações pequenas dos mais próximos, e as grandes como do país e especificamente dos políticos, e nos indignamos. E assim nos exaltamos um pouco, afinal reverbera em nós alguma semelhança, e nos alivia saber, olhar, falar, apontar o dedo, afinal.. há pecados maiores que os meus, há mentiras e vantagens bem maiores que as minhas... ufa...! E disfarçamos por um tempo nossa fragilidade, adiamos nossas verdades que teríamos com o conhecimento sobre a vida e sobre nós mesmos. Deixamos pra lá nossa auto-responsabilidade e permanecemos no condicionamento de ir culpando e assumindo o papel de "corajosos" covardes - defensores dos fracos e oprimidos - sem saber que propriamente é que o estamos!
Como dizer o que você sente?
"Sou eu próprio uma questão colocada ao mundo e devo fornecer minha resposta; caso contrário, estarei reduzido à resposta que o mundo me der." - Carl Gustav Jung
- É preciso notar os desconfortos ao invés de negá-los ou aplacá-los, deixe seus sintomas comunicarem o que estão gritando em você. Silencie para ouvi-los, você pode usar a condução da meditação ou conversar com seu corpo, mas precisa mergulhar em si. Outra boa prática muito simples que surte efeito e insights é o EFT.
- É importantíssimo se auto-observar primeiro, usar algum método terapêutico por um tempo... para conhecer-se e saber quem anda respondendo por você, saber dos personagens que o ego construiu, os condicionamentos que imperam, os "tem que" a que você tem dado ouvidos, para que suas respostas estejam o máximo possível alinhadas com seu sentimento. E descobrir a quem você anda protegendo de ser ferido: é o homem/a mulher, ou é a criança? A vítima? Houve vítima ou expectativas irreais, exageradas? Para seu próprio bem, pergunte-se: você é capaz de perdoar não o outro, mas a si próprio - as expectativas que imaginou?
Pelo menos tendo começado as 2 etapas anteriores, continue:
- Não seja impulsivo. Evite responder no ato, diga que precisa analisar. E separe um tempo para "fazer contato". Deixe todas as "vantagens" de lado que sua mente irá encontrar e conecte-se ao seu coração e sinta qual é a resposta. Este é um treino por um tempo, depois conseguirá saber e responder no ato. Ou use o sincero: Não Sei!
- Atue apenas no Agora, esqueça o passado, não use condicionamentos, percepções passadas. Não se projete ao futuro, temendo consequências ruins. Esteja por inteiro no presente e responda à verdade da sua alma - ela é seu mais fiel guia.
- Preste atenção à sua voz, use o seu tom normal quando precisar dizer NÃO. Respire. O tom com que falamos é por vezes muito mais agressivo do que aquilo que dizemos. Não há normalmente necessidade de gritos e imposições, isso só denota uma superioridade e falta de firmeza.
- Não invente desculpas. Apenas diga NÃO. NÃO quero. NÃO vou. NÃO preciso. NÃO estou preparada nesse momento, etc. Mas agradeça se necessário. O simples fato de pensar em inventar uma desculpa é insegurança, e aquela culpa estará prestes a surgir. Além do que, a exposição de uma verdade não justifica uma mentira.
- Nas situações simples, evite explicar. Sentimento é inexplicável e você achará ou estará inventando coisas sem muito sentido.
- Deixe as emoções de lado para conversar. Um NÃO é simples como um SIM, só que enquanto o SIM abre espaço, o NÃO delimita.
- Dizer NÃO nas situações de relacionamentos e parcerias é em comum bem mais delicado, na verdade porque o explicar é que se torna complicado. Parecemos estar ferindo o outro, mas em geral você está mexendo com os ideais que o outro construiu e que provavelmente sejam irreais também, porque para uma coisa ser funcional, é necessário acordo e sentimento mútuo. Se você está certo sobre o que sente, precisa expôr para chegar a acordos. Procure não ficar ansioso, fixe-se ao presente e converse francamente.
- Esqueça o que os outros irão pensar ou fazer, isso já não é problema seu.
- Abandone as comparações, elas apenas alimentam a baixa autoestima e a culpa. Cada um tem e precisa seguir seu próprio caminho.
- Observe a raiva que você sente, as frustrações do dia a dia. Esqueça o motivo que gerou a raiva e entre nela, aprofunde-a até saber o que a contém. Aí volte e observe o fato, geralmente ele vai lhe dizer que a raiva que você sente pelo motivo X é o mesmo que você pratica mas de outra maneira, mas isso é mais difícil de ouvir/aceitar. Entrando na raiva sem o motivo, fica mais fácil.
- Perceba os noticiários e programas onde você coloca sua atenção. Perceba o quanto há de divertimento ou de indignação exaltada. É razoavelmente normal nos sentirmos indignados perante às injustiças, mas se lhe afeta exageradamente preste atenção com o que e onde reverbera no seu interior.
- O medo de perder algo ou alguém ou uma oportunidade, deve dar lugar a confiança de que nada do que é realmente uma ligação valiosa e necessária para sua experiência se perde. Não se torne importante, se torne Você!
- E por fim, leia mais dicas sobre autoestima, que incluem a ética (educação dos limites) e compaixão (o olhar não exigente), e compreenda melhor sobre essa palavra que anda meio deturpada na sociedade: AutoEstima! (clique aqui).
Óleos Essenciais, a valiosa ajuda dos aromas
E entre todos os óleos essenciais a Bergamota continua sendo o destaque, por ter a particularidade de fazer contato com o nosso centro, dissolvendo o que está à volta como a vulnerabilidade, a inconstância, a timidez, resgatando a autenticidade do EU.
É importante usá-la de preferência em colar aromaterápico por 10-15 dias em sequência diária, pois a mensagem vibratória da Bergamota vai sendo assimilada aos poucos e você vai descobrindo o que significa esta AutoEstima, que é o pleno contato com seu EU de modo bem natural. Pode ser que tudo volte quando você parar de usar?
Pode sim, depois de algum tempo. O óleo essencial é um facilitador, as mudanças é você quem faz, ou melhor, desfaz-se dos condicionamentos. Mas se voltar, continue usando com intervalos de alguns dias de descanso, para que você vá associando esta vibração à sua e fazendo em paralelo mudanças e afirmações da pessoa única que é você para sua vida!
Ou para continuidade pode optar por usar em massagens, banhos, ou demais composições que a contenham.
A Bergamota é também um excelente antidepressivo, suave calmante e moderador de humor. Leia mais aqui sobre esta e outras indicações.