18 outubro, 2010

Sintoma = Juntando pedaços

por Pedro Paulo Monteiro (www.pedronotempo.blogspot.com)
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O que é um sintoma? A etimologia da palavra “sintoma” vem do grego, que quer dizer juntar os pedaços: sin(juntar) tomo(pedaço). Juntar as peças de várias sinalizações orgânicas ou psíquicas, assim como num quebra-cabeças. Isso é o que eu faço no meu dia-a-dia terapêutico. 

Seria bem mais fácil se a linguagem de nosso organismo fosse linear – como eu aprendi na faculdade – Ou seja, baseado em causa e efeito, antes e depois. O tempo correndo numa direção determinada. Mas não é bem assim.

Quando pensamos num sintoma, naquilo que nos faz mal, pensamos o que o causou (passado). A linearidade tem como condição prévia a noção de tempo. Por exemplo: “Eu estou enjoado porque comi algo que me fez mal”. Simples demais. Nem sempre podemos pensar num sintoma como algo que nos provocou (passado) o mal-estar. Temos de pensar de outra maneira: “Eu não me sinto bem, então procuro algo para comer que me fará mal para justificar o meu estado”. Quantas vezes ficamos com raiva e descontamos na comida? 

É mais fácil pensar que algo externo nos provocou algo. Aprendemos isso pela física newtoniana, não é mesmo? “A cada ação corresponde uma reação igual e oposta”. 

Seria mais verdadeiro, mais honesto com nós mesmos se soubéssemos que nada está fora. Somos nós os nossos próprios construtores. 

O tempo não é partimentalizado, uma coisa depois da outra (ideia de sequência). O tempo é criação de nossa consciência lógica. O nosso modo de pensar foi produzido a partir dessa noção, mas não quer dizer que as coisas sejam assim. 

Ontem foi solucionado um sintoma de um paciente que há três semanas estava a incomodá-lo. Ele apresentava uma dor no ombro esquerdo (aspecto feminino), e não conseguia compreender a relação entre o ombro e o feminino. Na última semana, eu disse para ele ficar atento a qualquer figura feminina que porventura pudesse entrar em contato com ele. Então, ele abriu as portas da percepção, e naquela mesma noite recebeu a visita de uma mulher, que não o via há vinte anos. Ele tinha sido o seu primeiro amante, e não conseguia deixar de se culpar por abandoná-lo sem justificativas. Ela surgiu para justificar a sua partida. Ele a perdoou e o sintoma desapareceu por completo. 

Pode parecer estranho, mas estamos interligados por campos morfogenéticos, como Rupert Sheldrake menciona em seus trabalhos. Campos estes que nos unem e nos fazem. 

Nunca devemos deixar nada para trás. Aquilo que não resolvemos, acaba por nos cobrar uma atitude, mesmo que seja muito tempo depois. São sintomas que se revelam para nos mostrar um caminho mais justo. 

Quando resolvemos um emaranhamento relacional nos libertamos para seguir em frente.

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