Aviso: contém spoiler
Por Milene C.S.
Assisti ao filme que neste momento está no streaming da Netflix - Um Pai para Lily.
Curiosamente e em sincronia, já tinha começando a ver o filme, mas aqueles 5 min que a gente não prossegue. Dai, na semana, terminei mais um curso que está no InsightTimer - Autocompaixão Somática - e acaba que ontem dei play de novo no filme, e bem a calhar com o término do curso.
Nesse curso trato da importância de compreender as razões emocionais das formas do nosso corpo, além do pensamento simplista que o mundo nos oferece, e adentrando a questões mais profundas em relação a alimentação, controle, arquétipos, emagrecimento x das necessidades emocionais do corpo gerar camadas adiposas de defesa…. e a tratar disto em forma autocompassiva, começando pela compreensão do que nossas formas representam e ampliando essa escuta corporal. Para tanto, falo sobre as tipologias somáticas desenvolvidas inicialmente dos estudos das couraças por Wilhem Reich e configuradas mais tarde por Stanley Keleman e Alexander Lowen, dei um aprofundamento maior nas 4 tipologias de Keleman. E no filme em questão, está retratado muito bem dois destes perfis: o inflado (Lily) e o denso (Bob).
Bom, o filme é uma fo-fu-ra, pegue duas caixas de lencinhos e vá assistir. Me lembrou demais do Mary & Max onde a temática de fundo é a amizade. Não sei… mas creio que até os corações mais gélidos são altamente tocados 🤔.
No começo vemos a Lily chorando com vontade de xingar o namorado no celular - mas não o faz, apaga a mensagem para um “no problems”. Corpo grande, gorda, padrão inflado na tipologia, aquele que literalmente “infla” para chamar a atenção. Esse padrão tem muitos problemas ao impor limites e a dizer não, a fazer valer sua vontade, engole tudo, fica com a mágoa.
O tempo todo Lily mostra o quanto é gentil, prestativa, simpática, faz gracinhas… chama a atenção para si. O que parece personalidade, na verdade é excesso, é trauma. Logo, saberemos o padrão do trauma, conhecendo seu pai no restaurante que não lhe dá muita atenção, mostra as mulheres que paquera no celular de forma objetificada. No primeiro momento que Lily não lhe é útil, rompe com ela e a deixa no vácuo por um longo tempo de silenciamento, o que é só só mais uma das vezes que agiu assim.
O pai claramente em traços narcisistas: imaturo, negligente, sem empatia, aproveitador, manipulador.
Quando Lily vai buscar a terapia, por causa do rompimento do namoro, fala sobre uma infância tão negligenciada e ao mesmo tempo sem nenhuma percepção disto, pelo contrário apenas colocando a responsabilidade em si, que a psicóloga ainda novata cai em prantos.
Do outro lado, o Bob, o novo amigo de Lily, corpo quadrado, baixo, encurtado, padrão denso, aquele que vai suportando tudo, todo o peso do mundo. Mas também é o tipo leal e confiável. Já deixa claro no primeiro encontro que adora ajudar as pessoas.
Bob, assim como Lily vão sendo transformados pela gentileza, pela disponibilidade da amizade e compaixão.
Lily pela primeira vez começa a entender com Bob que conflitos são feitos para conversar, não para silenciarem (não para serem usados como arma de abandono), nem fecharem as portas, nem janelas do carro na sua cara.
O momento do cachorrinho é tocante, creio que ainda mais por Bob só permitir que ela chore, Lily poderia chorar até o infinito naquele momento derramando toda sua tristeza guardada que Bob só estaria ali esperando. Bob lhe dá espaço.
Outro momento de destaque é a raiva que Lily não alcança, tem uma camada enorme que a amortece em seu corpo... até se deparar cada vez mais com a realidade de como é tratada pelo pai, algo que talvez só o contraste de carinho que recebe do Bob a tenha feito ver, poder impor sua vontade e derreter o amortecimento.
Um aspecto do inflado bem demonstrado no filme é a invasão. O tipo inflado invade, isso aparece no momento em que Lily tenta saber do pai pelas mensagens, depois em ir até a casa do pai e depois na invasão da casa de Bob. É difícil conter o avanço, assim como o corpo que perde seus contornos o inflado não reconhece limites, tenta também aplacar a agonia emocional do vazio, do não saber, do não ser visto. O inflado tem a ânsia do preenchimento pelo outro.
Com a Daphne também tem um momento interessante, onde a mesma cobra da Lily a sua abertura para serem amigas. Padrões inflados ou que nunca puderam expor seus sentimentos não se abrem facilmente sobre seus sentimentos, até porque muitas vezes lhe são desconhecidos já que não eram ouvidos ou vistos como relevantes.
Enfim, cada fala, cada gesto, cada olhar são delatores nesse filme.
E novamente aqui algo que já comentei inclusive nos podcasts, o de como a compaixão nos traz autocompaixão, como nos faz ver quem nós somos, do que merecemos, a reconhecer nosso sofrimento porque tem ali uma figura compassiva a nos estender esse olhar, a dizer eu te vejo, “eu me importo”.
___
Lembrando então, o curso está disponível na plataforma do InsightTimer e saiba mais sobre os cursos, terapia, autocompaixão, acessando o site: www.autocompaixao.com.br


Nenhum comentário:
Postar um comentário