14 janeiro, 2011

Águas de Janeiro


Novamente as enchentes. Desta vez impossível não falar sobre, até porque as águas também invadiram minha casa. Foi quase inacreditável. Onze de janeiro de 2011 próximo à 1:00 da manhã, quando a maioria das pessoas dormia. No fim da rua onde moro passa um riozinho... muito simpático. No ano passado era tanta chuva, lembro que chovia o dia todo a noite todo e por dias, tanto que minha cidade sofreu muitos problemas e inundações onde por muitos anos ou em lugares antes nunca inundados, áreas de alto padrão inclusive. Esse ano foi pior.
Eu dormia profundamente e nem ouvia a chuva, mas estava sonhando que portas de comércio abaixam devido a um "mau" tempo. Ao começar ouvir barulhos aqui em casa levantei, e logo tratamos de levantar algumas coisas, avisar vizinhos. Na verdade nessa situação tão inusitada, a gente fica sem muita ação, sem saber ao certo o que fazer, até porque leva-se algum tempo para acreditar no que os olhos estão vendo, de repente o rio estava na sala. E a água foi chegando veloz e rapidamente, perdi alguns papéis e coisas de pouco valor, de perdas nem podemos reclamar, meus vizinhos mais próximos ao rio, perderam sofás, colchões, muitos móveis, geladeiras, etc...
Impossível dormir - 3 da manhã, quando a água foi escoando, já estávamos de rodos na mão, muita lama, e
água difícil de remover, mais água para tirar a água... O susto foi grande. Na minha rua moram muitas senhoras e sozinhas que estavam dormindo, muitos foram pegos de surpresa com a água já invadindo a casa. Rapidamente a Defesa Civil chegou ajudando a retirar as pessoas.
Hoje a maioria das casas já está limpa, todo mundo queria ganhar tempo limpando rapidamente, é como se pudessem com isso apagar o ocorrido. Aqui em casa limpamos o grosso, mas por um serviço mal feito em nosso piso, ele estufou e quebrou, isso já era esperado, mas não para tão já, muito menos desta forma... então minha casa vai ficar um bom tempo como se estivesse em reforma, incluindo meu quarto ! Outra coisa é o cheiro, no dia era cheiro de rio,  peixe, a água era lamacenta, mas não suja. Temos alguns móveis pesados que acumularam água atrás e tem agora um leve cheiro de repolho.Teremos que aos poucos esvaziar, tirar do lugar, secar muitas coisas.... Tudo com paciência e tempo... Mas tudo bem, não estamos desesperados, uma coisa de cada vez. Diante das tragédias que vemos, tudo isso é de menos.
Bom, o que aconteceu aqui ? Falam de represas e comportas abertas..., sujeiras que se acumularam, falta de providências federais... não dá para dizer que é só isso ou aquilo, é o todo, incluindo nós seres humanos.
Na minha rua, a coisa ainda foi pequena, houveram lugares com água pelo teto e horas e horas de inundação... há muitos desabrigados.
Mais triste ainda foi ver o que aconteceu na região serrana do RJ ontem....  Triste demais quando há tantas perdas humanas.

Morei em um lugar em SP, onde a enchente era comum, mas eu sempre vi a enchente da janela da minha casa, pois a água nunca entrou lá. Aquelas enchentes também não eram tristes, já eram esperadas, as pessoas já sabiam como lidar com aquilo. Presenciei ainda melhor isso no único dia que fiquei ilhada ao tentar chegar em casa, o ônibus parecia uma balsa e não havia como descer, nesse dia por sorte tinha encontrado no mesmo horário minha melhor amiga, aliás o único dia que nos encontramos naquele horário no ônibus ! Ficamos ilhadas até de madrugada em uma farmácia, nesse dia foi que olhando o movimento, me dei conta que não havia tristeza, por mais inusitado que isso pareça.


Obviamente em perdas, principalmente humanas há muita tristeza. Melhor dizendo águas mexem com nossas emoções, despontando tristeza ou até mesmo alegria como as enchentes que presenciava. Águas que levam terras, fazem com que estruturas sejam mexidas, devastadas, imersas.

Eu pessoalmente já começo a ver o que aqui em casa, pelo menos, seja necessário. De uma forma ou de outra acredito que a vida aja em nosso favor evolutivo, sempre.


Vou encerrar com o ótimo resumo de uma amiga jornalista, Viviane Cocco :

" Tenho total Respeito por qualquer manifestação da Natureza.... O problema não são as chuvas, mas a falta de planejamento para o crescimento das cidades, a impermeabilização/urbanização do solo e a péssima educação da grande maioria, que joga lixo na rua e pensa que suas ações são algo isolado. Frutos do pensamento de que o Homem pode (coitados de nós!!!) dominar e domar a Natureza. É um reflexo do estado de consciência em que a Humanidade viveu imersa até hoje. Não somos vítimas, somos co-responsáveis, assim como somos co-criadores! Basta rezar muito (e ajudar) quem está pagando o pato!"


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